22 de maio de 2007

Carolina Garcez e Silva

3.1.
A escravidão existia Há milhares de anos antes de portugueses chegarem ao Cricaré.Porém ela não era exatamente como na época dos portugueses. Em Roma, os escravos eram guerreiros inimigos capturados.Como a península Ibérica fazia parte do Império Romano, a escravidão não era estranha para os portugueses.
Os escravos usados pelos portugueses eram africanos capturados pelos próprios portugueses ou por tribos rivais dos próprios africanos, financiados pelos lusitanos com armas e afins. Até o séc. XIX a escravidão era hábito para os brasileiros que se acostumaram a maltratar os negros.
3.2
Os Portugueses tinham que trazer africanos para fazer de escravos e não utilizar os índios, pois esses não serviriam como escravos, pois poucos deles dominavam a agricultura; não entendiam que deveriam plantar cana-de-açúcar, que seria transformada em açúcar. Não era por falta de inteligência dos nativos, mas sim porque aquilo não era da cultura deles; Além disso, os homens indígenas, preferidos pelos portugueses, estavam acostumados a caçar e pescar, não a plantar.Por último, quando se capturavam índios, os parentes e amigos remanescentes atacavam as fazendas, para tentar libertá-los.
O Porto de São Mateus é um local muito importante pois o Rio Cricaré passou a ser usado como a melhor forma de se chegar e sair de São Mateus.
Com o aumento da produção agrícola em São Mateus na metade do séc. XVIII, o porto passou a ser mais utilizado e os agricultores da Vila enriquecendo, comprando mais terras aumentando a produção, comprando mais escravos e desenvolvendo a região.
Com a superprodução da farinha de mandioca, no séc XIX São Mateus tornou-se ponto de interesse comercial para navegantes que passavam por ali, assim as famílias de São Mateus foram se enriquecendo.
São Mateus tornou-se mais rico do que todos os outros povoados do Espírito Santo juntos. Com o aumento de produção, mais escravos chegaram ao Brasil. O porto de São Mateus ficou internacionalmente conhecido como um lugar de parada de navios negreiros. Milhares de negros ficaram na região e muitos outros migraram por muitos lugares do país.
São Mateus tinha uma ligação comercial muito forte com a capitania de Porto Seguro, na época colonial e Bahia na época do império. Por isso, quando foi declarada a independência do Brasil, São Mateus não apoiou , pois a Bahia não tinha apoiado.
Quando o tráfico de negros da África foi proibido, ele continuou só dentro do país, e o Rio Cricaré continuou como um ponto importante nesse quesito.
Hoje, São Mateus é um dos municípios onde mais há descendentes de negros no estado. E eles são, geralmente pobres devido a essa história de crueldade contra o negro.


3.3 –
Os escravos eram capturados de suas tribos, retirados da sua família e levados para os donos, em navios, em péssimas condições passando fome e pegando doenças.Quando chegavam no Brasil, lidavam com uma realidade diferente: agora eram escravos. Passariam por humilhação e trabalhos desumanos o que fazia com que muitos deles ficassem deprimidos - era o “banzo”.
A maioria, no entanto, não se entregava, lutava como podia para tentar se libertar.
São Mateus foi uma das regiões do Brasil onde mais surgiram quilombos. Era a procura da liberdade.
3.4 –
Para entender melhor como era a escravidão em São Mateus, duas histórias reais serão retratadas.

Por volta do ano 1680, um fazendeiro de nome José Trancoso trouxe do continente África doze negros para serem escravos em sua fazenda.Um desses escravos era Zacimba Gaba, que os outros negos chamavam de princesa. Ela era princesa da nação africana de Cabinda, que hoje fica na Angola.Quando Trancoso soube que tinha uma princesa como sua escrava, ele trancafiou-a na Casa Grande e durante anos e, durante anos, apanhou dele e sofreu abusos sexuais.Os outros escravos da fazenda tramaram um plano para libertá-la.
Zacimba foi amadurecendo e começou a liderar um movimento de libertação nas fazendas de Trancoso.Durante meses os escravos envenenaram, aos poucos, a comida de José Trancoso. Quando os capangas de José descobriram que ele fora envenenado, os escravos, que sabiam que seriam mortos, invadiram a casa matando todos, menos a família do senhor.
Zacimba comandou a fuga de seu povo e passou a lideram um movimento que atacava navios negreiros. Esses navios, que precisavam entrar no Cricaré para desembarcar, ficavam na costa esperando a maré aumentar para entrar no rio. Enquanto os navios esperavam na entrada do rio, a princesa Zacimba e seus guerreiros atacavam. Por dez anos libertaram centenas de negros. Os europeus já não ficavam perto do mar, pois temiam o ataque dos negros do quilombo do Riacho Doce. Zacimba morreu invadindo um navio, cumprindo sua missão e seu ideal, mostrando para todos os negros de hoje que eles devem lutar pela valorização da sua cor, pelos seus direitos e, principalmente, pela igualdade entre os homens.

Uma outra estória, envolvendo escravos, ocorreu nos arredores de São Mateus. Foi a da jovem Constança de Angola. Ela era escrava do Coronel Matheus Gomes da Cunha que viveu, por volta de 1880, na Fazenda Cachoeiro.
Certo dia, a esposa do coronel ouviu o choro do menino novo de Constança. Ela detestava choro de criança e achava que o fato de ter um bebê atrapalhava o trabalho da escrava. Então jogou o bebê numa fornalha em brasas.
Os negros tentaram fazer uma rebelião e a esposa do coronel foi para a cidade. Constança ficou sendo surrada por Zé Diabo, um ex-escravo, considerado traidor pelos negros. Constança foi libertada por um grupo de escravos fugidos que ficou sabendo do episódio cruel.
Constança passou a lutar contra a escravidão. Invadiram várias fazendas e libertaram vários escravos.
Certa vez, numa emboscada que os fazendeiros prepararam para Constança, ela sofreu um ferimento. Todos os outros negros fugiram e a deixaram no local. Por isso, Constança foi presa na Cadeia Velha (onde hoje é o museu). Porém, em um dia de procissão, na calada da noite, vários negros libertaram Constança da cadeia. O povo da cidade ficou em pânico, pelo perigo e pela “ousadia” dos negros.
-
Certa vez, à noite, num lugar às margens do Rio Cricaré, chamado Piaúna, Constança e os outros negros estavam preparando comida quando Zé Diabo.Constança era ótima lutadora de capoeira angola e sempre andava com uma faca muito amolada. Constança gingava de um jeito que Zé Diabo não tinha como acertá-la com uma garrucha de dois tiros. Após muitos minutos, já escurecendo, dentro da mata ouviu-se um tiro. Constança desviou do tirocom destreza continuou na ginga de capoeira esperando para atacar Zé Diabo.
Muito tempo se passou, e Constança foi cansando. Foi quando se ouviu o segundo tiro. Ao chegarem ao local, encontraram Constança morta. Como o prometido, foi enterrada na fazenda de Cachoeiro com o filho.

Carolina Garcez e Silva

Nenhum comentário: